IV. Relato ficcional

O relato abaixo é pura ficção tirada da minha cabeça e eu não tenho nada a ver com isso. Antes que alguém saia pensando ou dizendo coisas esquisitas sobre mim. Aliás, eu processo. E se for encontrado morto nos próximos tempos, vocês sabem quem foi.

Recentemente chegada de Barbados, B. conheceu P.D. numa das festas na sua mansão. Todos vestiam branco e tomavam champanhe de taças de cristal. A pele escura e sedosa da menina contrastava com o enrugado doentio da dos produtores de quem chamou a atenção. Solicitaram uma entrevista com ela. P.D. concedeu uma suíte climatizada com cama vibratória, espelho no teto, frigobar, sistema de som completo e uma banheira com hidromassagem. Dezoito horas mais tarde, B., que nunca havia pensado em seguir carreira no entretenimento, saía da mansão com um contrato de dois anos assinado.

J.Z., amigo de P.D., ouviu falar da menina quando ela estava prestes a completar 17 anos. Ela então já começava a fazer algum sucesso como intérprete. As canções do seu repertório eram compostas por uma equipe de primeira, gente que havia trabalhado com nomes como M.J., J.B. e M.C., só para ficar nos mais famosos.

No seu aniversário, em uma modesta casa de dois cômodos afastada do centro, conversaram sobre o potencial daquela carreira nascente. Ele tinha diversas ideias. Queria levá-la para fora, fazer uma turnê internacional. Que ela tivesse tudo do bom e do melhor. Queria que ela fosse vista pela pessoa maravilhosa que ela realmente era. E queria que tirasse a roupa. A essa altura, B. já tinha uma ideia melhor de como a coisa funcionava. Pouco depois fez novo contrato, além do matrimonial, tornando-se assim a esposa e criatura de J.Z.

Tudo corria às mil maravilhas para o casal. A carreira de B. decolou, chegando a picos mais elevados do que se podia esperar. Os anos se passavam. Contando sempre com a ajuda de P.D., os obstáculos, pois havia deles, eram superados como que num passe de mágica. Lançamentos de álbuns eram programados para muito antes ou muito depois dos de B. Personagens hostis desapareciam da mídia. O avião de inimigos caía. Tudo muito bonito. Até que, em um momento de fraqueza, J.Z. deu em cima da irmã mais nova de B. e levou um tapa na cara. O momento foi registrado e amplamente divulgado pelos canais de fofoca. A partir daí, o casamento começou a esfriar.

P.D. fez uma chamada para o amigo. Meu irmão, disse ele, o que você está pensando da vida? Dar em cima da irmã da esposa? Apareça hoje à noite, vou te mostrar umas opções melhores. Os dois se encontraram à beira-mar. P.D. apontou para um navio que se aproximava. Carregamento novo, disse ele, chegando agorinha do Brasil. 12 a 19 anos, você escolhe. Fresquinho pra você e pra mim.

Muitos anos se passaram. Já numa espiral descendente na carreira, B. conheceu alguém de quem realmente gostava. O que era estranho, já que em toda a sua vida não havia gostado realmente de ninguém. Começou a frequentar o apartamento do homem, cujas iniciais não serão reveladas por motivos de segurança. Ele trabalhava para o Departamento de Estado e tinha muitas conexões, inclusive um amigo promotor de justiça. Passavam noites maravilhosas juntos. Ele perguntava sobre o casamento dela com interesse genuíno, inicialmente, depois com apreensão. Ficou sabendo de coisas que não deveria saber. Coisas que nenhum de nós sabe. Recentemente, propôs que, juntos, oferecessem uma denúncia que pudesse não sanar, mas pelo menos fazer cessar alguns dos males operados pela turma dos dois famosos parceiros e produtores.

Por muito tempo B. ponderou. Pesou os prós e os contras. Um dos problemas, para ela, seria a exposição. Mas talvez isso fosse uma boa coisa, afinal. Algo do tipo alertar as pessoas para os males que as mulheres podem sofrer mas mãos da pessoa errada etc. Uma chance de recomeçar.

Outro era a pena deslocada que já sentia de J.Z. Mas contra isso pesava uma lista de delitos interminável.

Ele havia dado tudo o que havia prometido a ela, sim – mas dar em cima da irmã?

Queria que ele fosse feliz, todo mundo tinha esse direito – mas às custas da vida de dezenas de crianças?

Não ligava muito que ele tivesse os seus desvios matrimoniais – mas com o W.S.?

B. apertou a mão do homem. O resto é história.

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