Eu achava que tinha controle sobre a minha vida. À medida que me aproximo do portão para deixar o terreno do hotel, começo a duvidar. Não sei dizer o nome de nenhuma espécie da flora ao redor, então que fique nisso. O ar pesado, úmido, não sei como descrever. Fato é que o mato não nos quer ali.
Passando alguns dias de repouso naquele lugar paradisíaco, a minha esposa e eu soubemos aproveitar o tempo. Jogamos na máquina de pegar bichinho (adulterada) e comemos sorvete. Comemos também diversos pratos típicos ligeiramente adaptados ao paladar urbano. Passeamos pelas trilhas sem sermos picados por cobras ou algo que o valha. Nadamos na piscina, na cachoeira, no riacho e na lagoa. Grande lagoa. Mas fomos picados por muitos insetos, pelo que contraí uma doença tropical que me deixou incapacitado por uma semana e alguns dias. Sinto as sequelas até agora, ou é a minha cabeça mesmo.
Entrementes o meu pai morreu. A minha filha chorou. Colocamos o corpo no porta-malas e, com a ajuda do atendente cujo nome não lembro, o que estava de quepe e casaca bordô, fizemos o carro rolar até o riacho. A ideia não foi boa. O carro ficou ali, se banhando, até explodir.
A ideia não foi boa, mas não importa, porque isso é mentira. O meu pai não morreu. Ele está na Tailândia com a esposa dele. De vez em quando mandam fotos em restaurantes com estrelas Michelin que mais parecem o pé-sujo da esquina. Parecem se divertir.
Eu te amo, mas tudo mudou com a explosão. A seguradora não cobre perda total porque não paguei os prêmios. Felizmente, no entanto, o nosso amor não precisa de carros. Mas tudo mudou porque agora seremos forçados a andar a pé, o que parece ruim. Felizmente, no entanto, ao chegar lá, estaremos mais leves. Porque o carro, segundo me dizem, pode chegar a pesar mais de uma tonelada.
Este é o peso do meu amor por você e muito mais.
Deixe um comentário